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Nossos heróis da fé, nossos santos!
Diz Mons. Assis: "A incerteza quanto ao número total de sacrificados e o anonimato que cobre a maioria deles constituem, certamente, um impedimento à apresentação de todas as vítimas de Cunhaú e Uruaçu para o reconhecimento do martírio"( PEREIRA, F. de Assis. Protomártires do Brasil, p. 52). A postulação da causa dos mártires podia apresentar somente alguns nomes de toda essa multidão de santos. Enquanto em Cunhaú pudemos identificar somente os nomes dos Beatos Pe. André e Domingos , em Uruaçu conseguimos 28 nomes. Assim, dos cerca de 150 gloriosos mártires, apenas 30 foram oficialmente beatificados. Desses 30 Beatos do Brasil, apenas de alguns conhecemos alguns dados biográficos. Da grande maioria muito pouco ou nada se sabe, às vezes só o nome, alguns nem isso. Aliás, de vários, o que sabemos, o mais das vezes, é a forma como foram trucidados. Essa é uma tremenda realidade. Ficou para nós apenas um relato trágico daqueles que agora são honrados diante de Deus com a palma do martírio! O que isso significa? O que quer dizer para nós? São homens e mulheres, jovens e até crianças, iguais a qualquer um de nós. Simples famílias, como as famílias do povo brasileiro...Cada um medite diante de Deus o significado de tão comovente história. Deus conhecia cada um desses 150 mártires perfeitissimamente, e com grandes festas recebeu-os em Sua Presença. Os Anjos devem ter cantado seus nomes, e proclamado nos céus as graças que receberam ao longo de suas vidas. Mas, para nós, Deus permitiu que fossem lembrados assim. Serão um retrato de nossa gente, de nossas comunidades, de nossa vida de fé?... Em gloriosa memória dos cerca de 70 mártires de Cunhaú e 80 mártires de Uruaçu, vamos relatar o que se sabe de suas vidas! Que o Senhor nos ilumine com o seu exemplo!
Martirizados em Cunhaú, 16 de julho de 1645:
Santo André de Soveral, padre

Nascido em São Vicente, hoje Estado de São Paulo, por volta de 1572. Entrou na Companhia de Jesus no dia 6 de agosto de 1593, na Bahia; estudou latim e Teologia Moral. Conhecendo muito bem a língua indígena, ocupou-se da conversão dos índios nos territórios dependentes do colégio de Pernambuco, na cidade de Olinda. Em 1606 veio ao Rio Grande em missão. Passou para o clero diocesano provavelmente entre 1607 e 1610. Voltando ao Rio grande já como sacerdote secular, recebeu dotes de sesmaria em Cunhaú em 1614, onde era pároco. Teria 73 anos na época do martírio, dentro da igreja em Cunhaú, durante a missa:
"A figura do Pe. André de Soveral, na sua veste de pastor do pequeno rebanho de Cunhaú, desponta como o grande herói que, não só ofereceu a vida pela fé no momento sublime do sacrifício eucarístico, mas também exortou os fiéis a fazerem o mesmo, aceitando voluntariamente o martírio" (PEREIRA, F. de Assis. Protomártires do Brasil, p. 17)
São Domingos de Carvalho
Além do Beato André, é o único nome a ser mencionado em toda a multidão de Cunhaú. Após o massacre, começaram a fazer festa e a despojar os cadáveres. Diz-se que em um dos que mataram, chamado Domingos de Carvalho, um dos principais do lugar, acharam certa quantidade de ouro, que foi repartida entre os assassinos.
Martirizados em Uruaçu, 3 de outubro de 1645:
Santo Ambrósio Francisco Ferro, padre

A primeira informação que se tem do Pe. Ambrósio data de 1636, constando que já era vigário do Rio Grande. Aparentemente tinha um relacionamento amistoso com os holandeses, pois pediu asilo aos mesmos na Fortaleza. Outro mártir, o Beato Antônio Vilela Cid, era casado com a irmã de Pe. Ambrósio, Inês Duarte, açoriana. Deduz-se que também ele era açoriano, ou seja, português.
São João Lostau Navarro
Nascido no Reino de Navarra, nessa época incorporado à França, não é considerado espanhol, mas francês. Tem-se dele boa referência por parte dos jesuítas que trabalhavam no Rio Grande; sabe-se também que, por ocasião do casamento de uma filha, estabeleceu entre outras condições para o dote, a celebração anual de 24 missas por sua alma. Mantinha boas relações com os holandeses, pois uma sua filha casou com o tenente-coronel Joris Garstman, comandante da Fortaleza dos Reis Magos (cujo nome fora mudado pelos holandeses em Forte Ceulen), que governou a capitania de 1633 a 1637. Pescador, seu porto de pesca ficava provavelmente nas imediações da praia de Barra de Tabatinga, a poucos quilômetros de Natal. Ali fora construída sua Casa Forte, que Jacó Rabe, tapuias, potiguares e holandeses depredaram, matando os que ali se refugiaram. Somente nosso Beato foi levado à Fortaleza por ser francês. Apesar de sogro do comandante Garstman, foi preso e martirizado em Uruaçu, e sua morte foi atribuída a Rabe. Garstman jurou vingança: Jacó Rabe foi morto numa emboscada no ano seguinte, e Garstman condenado à retornar à Holanda como pessoa indigna.
Santo Antônio Vilela Cid
Nascido em Castela, região da Espanha, de família fidalga; já estava no Rio Grande em 1613, onde recebeu datas de terra na Várzea do Trairi. Havia recebido do Rei Felipe II (que era soberano desde 1580 tanto da Espanha como de Portugal) a importante função de capitão-mor, mas não se sabe porque não assumiu o cargo; em 1620 era juiz ordinário da cidade. Casou-se com Dona Inês Duarte, irmã do Beato Pe. Ambrósio. Antes do martírio era prisioneiro na Fortaleza dos Reis Magos, pois foi acusado pelo chefe indígena Janduí de conivência no assassinato de um holandês no Ceará e de estar envolvido em conspiração contra os invasores. Sofreu o martírio um Uruaçu com vários membros da sua família: o filho Antônio Vilela, o Moço, o cunhado Pe. Ambrósio, o genro Estêvão Machado de Miranda, casado com sua filha Bárbara, e três netas ainda crianças.
Santo Antônio Vilela, o Moço, e sua Santa filha
Filho do Beato Antônio Vilela Cid, foi um dos cinco hóspedes recebidos na Fortaleza dos Reis Magos levados para Uruaçu. De sua beata filha não sabemos o nome, apenas que era criança pequena e a mataram sem dó, "pegando-lhe em uma perna, e dando-lhe com a cabeça em um pau, e a fizeram em dois pedaços" (SALVADOR, M. C. O Valoroso Lucideno e Triunfo da Liberdade, p. 153, citado em: PEREIRA, F. de Assis. Protomártires do Brasil, p. 60).
Santo Estêvão Machado de Miranda e suas duas Santas filhas
Em 1643 o Beato Estêvão fazia parte da Câmara dos Escabinos, que era uma espécie de câmara municipal, presidida por holandeses. Havia ido em missão a Recife junto com o tenente- coronel Garstman protestar ao Alto e Secreto Conselho Holandês contra os abusos de Jacó Rabe e seus liderados. Era casado com Dona Bárbara, filha de Antônio Vilela Cid. Refugiado em Potengi, foi como refém para a Fortaleza, e daí para o martírio em Uruaçu, onde o sacrificaram junto com duas filhas menores. Foi executado diante de uma filha de sete anos, que suplicava para que o pai fosse poupado. Depois que o mataram, a filha cobriu-lhe o rosto com a saia, e pediu que lhe matassem também. Essa filha e a mãe, Bárbara, presentes ao martírio, tudo leva a crer que foram poupadas. Uma filha mais velha foi vendida aos índios. De suas duas beatas filhas martirizadas não sabemos também o nome, somente que uma delas tinha cerca de dois meses.
São Manuel Rodrigues de Moura e sua Santa esposa
Os cronistas narram a morte do Beato Manuel através da morte de sua beata esposa, da qual não sabemos o nome. Dizem que, depois de morto o marido, lhe cortaram os pés e as mãos, e morreu somente três dias depois. Frei Rafael, um dos cronistas, diz dela que, "levada de amor conjugal acompanhara a seu marido, e o chorava despedaçado..." (FREI RAFAEL DE JESUS, Castrioto Lusitano, p. 417, citado em: PEREIRA, F. de Assis. Protomártires do Brasil, p. 57)
São José do Porto, São Francisco de Bastos e São Diogo Pereira
Além dos Beatos Pe. Ambrósio e Antônio Vilela, são os outros três mártires recebidos como hóspedes na Fortaleza dos Reis Magos.
São Vicente de Souza Pereira, São Francisco Mendes Pereira, São João da Silveira e São Simão Correia
Além do Beato Estêvão, foram os outros quatro reféns levados da fortificação de Potengi à Fortaleza dos Reis Magos, e martirizados no primeiro grupo de 12 pessoas.
São João Martins e seus sete santos companheiros
Os cronistas narram que após tantas crueldades, os índios se compadeceram de um grupo de 8 jovens que ainda estavam com vida, e pediram que fossem poupados. Os holandeses parecem ter imposto a condição de que passassem a lutar pela Holanda, contra Portugal. Diante da recusa, 7 deles foram barbaramente mortos. É certo que ao Beato João Martins, mesmo após a execução dos sete Beatos companheiros, foi proposto de tomar armas contra sua nação, depois de ter testemunhado o que aconteceu aos companheiros. Teria assim poupada sua vida. Recusou dizendo: "Não me desampara Deus desta maneira, essa tomei sempre contra os tiranos, e não contra minha Fé, Pátria e Rei" e que "o matassem logo porque estava invejando as mortes de seus companheiros e a glória que tinham recebido"( SALVADOR, M. C. O Valoroso Lucideno e Triunfo da Liberdade, p. 153, citado em: PEREIRA, F. de Assis. Protomártires do Brasil, p. 54)
A Santa filha de Francisco Dias, o Moço
Sabe-se somente que era criança, e cruelmente a partiram em duas partes com uma alfange. O nome de seu pai não foi proposto à Beatificação por não ser mencionado expressamente entre as vítimas, embora é provável que seja uma delas, pois aí estava a filha, que é mencionada indiretamente pelo seu nome.
Santo Antônio Barracho
Depois de amarrado a uma árvore, os holandeses lhe arrancaram a língua, "pondo-lhe na boca em lugar dela as partes pudendas que lhe cortaram" (SANTIAGO, D. L.. História da Guerra de Pernambuco, p. 347, citado em: PEREIRA, F. de Assis. Protomártires do Brasil, p. 43 ) Foi ainda açoitado, queimado com ferro em brasa. Por fim, tiraram seu coração pelas costas, matando-o.
São Mateus Moreira

A descrição de sua morte é considerada o ponto mais expressivo da trágica narrativa do martírio de Uruaçu. O belíssimo testemunho de fé na Eucaristia, confessada na hora da morte, foi lembrado pelo Papa João Paulo II no Congresso Eucarístico Nacional, em Natal, em 1991 ( Homilia de Encerramento do XII Congresso Eucarístico Nacional , Natal, RN, em 13 de outubro de 1991) Os algozes arrancaram-lhe o coração pelas costas, e ele morreu exclamando: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento"
Dos 30 gloriosos Beatos, 27 são brasileiros, 1 português (Beato Ambrósio), 1 espanhol (Beato Vilela Cid) e 1 francês (Beato Lostau Navarro).
Aclamados como mártires
Conforme foi relatado, estavam presentes nos nossos Beatos todos os elementos necessários para a caracterização de um verdadeiro martírio. Da parte das vítimas sobressai a sua atitude resignada em suportar todos aqueles tormentos, a confissão de fé de vários deles, como a do Beato Mateus Moreira, e as orações e penitências feitas antes do martírio. Da parte dos perseguidores era evidente o ódio à fé católica, tanto pela aberta hostilidade dos holandeses contra a Igreja, como pela presença do fanático chefe indígena Paraopaba e do "predicante" calvinista tentando converter os católicos. Nesse sentido, entre as vítimas de Uruaçu relatadas pelos cronistas, dois nomes não foram apresentados para a beatificação: Manuel Alures Ilha e Antônio Fernandes. Ambos, estando já muito feridos, sacaram as facas que traziam na algibeira e atacaram mortalmente três índios, antes de serem por sua vez liquidados. Embora essa atitude seja moralmente justificável como legítima defesa, poderia causar dúvidas quanto ao terceiro requisito do martírio cristão: a morte livremente aceita.
Fama de santidade
Não bastassem as circunstâncias do martírio, começaram logo a circular notícias de milagres e prodígios relacionados às vítimas a aos lugares da tragédia. Embora hoje em dia é impossível comprovar sua veracidade, são muito importantes para destacar a fama de santidade que envolvia os nossos Beatos. Castigos, manchas de sangue, corpos intactos, suaves perfumes, músicas celestiais...Tais prodígios eram sentidos pelos contemporâneos como um sinal de santidade. A fama de santidade atravessou os séculos. Aliada à pesquisa histórica objetiva e de sólido fundamento, nossos Beatos tem sua memória e intercessão para sempre propostas à fé de todos os brasileiros.
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